Rui Pereira 6º J
"Cara direcção,
Com este e-mail pretendo enviar os meus agradecimentos pelo esforço, dedicação e zelo que tornaram possível a difícil tarefa de colocar de pé uma associação desta natureza e, simultaneamente, dar os meus parabéns pela criação deste blog que, sem dúvida, irá constituir-se numa forte e importante "ferramenta" para que todos os actores da comunidade da EB 2,3 Dr. Ruy d'Andrade possam dar o seu contributo para uma escola melhor.
Aproveitando a oportunidade, o primeiro aspecto que sugiro colocar em debate no nosso blog prende-se com a alteração do regime de venda de senhas de alimentação. Com efeito, sempre achei desajustado o procedimento de ter de se adquirir as senhas somente para o mês em curso. Concretizando: quando o mês termina numa 4ª feira, por exemplo, na 6ª feira anterior os alunos só podiam comprar as senhas de 2ª, 3ª e 4ª feira, porque (dizem as funcionárias) "não se podem misturar as contas de dois meses".
Enfim, nos dias de hoje, com tantos recursos tecnológicos, penso que é uma situação aberrante, que só se passa na nossa escola e que motivava a obrigatoriedade, completamente desnecessária a meu ver, de os alunos se deslocarem à papelaria duas vezes na mesma semana, para o mesmo efeito.
Actualmente, a situação ainda piorou. Ao que parece, todos os dias todos os alunos têm de ir à papelaria adquirir a senha para o almoço do dia seguinte!!! Mais parece uma romaria. Para além de todos os dias os miúdos terem de levar dinheiro para a escola (o que não me parece boa ideia), têm de perder um ou mais intervalos para esta causa.
Dizem que "há muitos alunos que adquirem a senha e não almoçam", mas será que assim vão almoçar??? Parece-me uma medida desajustada que visa prejudicar mais os que cumprem as normas que outros desrespeitam.
Não seria preferível implementar um sistema de controlo de presenças ao almoço e confirmar com quem adquiriu? E chamar a atenção aos pais de quem não almoça e os prejuízos que essa falta acarreta (tanto para os alunos como para a fazenda nacional)? Enfim... não sei se mais encarregados de educação se revêem nestes meus desabafos, mas não me parece que a actual seja, de todo, uma medida acertada.
Um abraço,"
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A Associação
Caro Encarregado de Educação,
Cumpre-nos em primeiro lugar, uma palavra de agradecimento pela sua mensagem, pois são mensagens como a que nos enviou, que nos fazem sentir que é importante a existência e manutenção deste blog. Registamos igualmente as amáveis palavras que nos dirigiu e que entendemos como de incentivo.
A questão que coloca é pertinente. De facto, trata-se de uma situação que não é prática e que tem claras desvantagens para os alunos, para os pais e para a escola.
A Associação, sentindo o problema, tratou de coligir um conjunto de informações que lhe permitissem colaborar na identificação de uma solução. São essas informações que passamos a partilhar.
O primeiro facto a relevar diz respeito ao custo das refeições que é suportado, em parte, pelos pais e noutra parte pelo orçamento de estado que é como quem diz, pelos nossos impostos.
A fiscalização sobre a forma como a escola gere as verbas para refeições compete a um organismo chamado Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, abreviadamente, DRELVT.
Esse organismo, estabeleceu parâmetros de controlo do rácio entre o número de refeições compradas pelos alunos e as efectivamente tomadas, de modo a garantir que o desperdício seja no máximo de 2%. Para atingir esse objectivo, a DRELVT impõe a compra diária das senhas de almoço. Admite, no entanto, que sejam compradas semanalmente, na condição de o desperdício máximo admissível não ser ultrapassado.
Faz parte das funções dos órgãos competentes da escola, apresentar mensalmente à DRELVT os valores compilados diariamente, com os desperdícios efectivamente ocorridos. Verifica-se, da análise desses relatórios, que o desperdício na nossa escola, tem sido claramente superior ao máximo admitido.
Consciente dos inconvenientes para todos, resultantes da compra diária de senhas, o Conselho Executivo (CE) fez uma última tentativa para evitá-la. Enviou uma mensagem através dos alunos aos pais e encarregados de educação (PEE), pedindo a sua intervenção, com o objectivo de providenciarem no sentido de melhorar a estatística e informando que, caso contrário, a DRELVT imporia a aquisição diária das senhas.
Para avaliar o resultado da diligência, a Associação teve acesso a alguns dados que reflectem a situação actual após ter sido pedida a intervenção dos PEE. Os dados são os seguintes: Em apenas 10 dias do mês de Dezembro de 2007, os nossos impostos pagaram 175 refeições (!) que não foram tomadas pelos alunos. No mês seguinte, em Janeiro de 2008 em apenas 21 dias pagaram-se e não se tomaram, 353 refeições.
Se os motivos económicos e a correcta gestão dos dinheiros públicos não fossem argumento suficiente para deplorar esta situação, sê-lo-ia o respeito pela memória de todos os seres humanos que diariamente e em todo o mundo, entregam a alma ao Criador por falta de um pedaço de pão.
A Associação pensou num modo de contribuir para a resolução do problema procurando junto de «Software Houses» uma solução informática que permitisse dotar os alunos de um cartão individualizado que pudesse ser «carregado» com almoços no acto da compra e «descarregado» quando o aluno almoçasse, permitindo a emissão de um relatório diário de ocorrências.
Quando dialogámos sobre o assunto com o Conselho Executivo, fomos informados de que este já tinha pensado numa solução para informatizar, não só o controlo das refeições mas os vários serviços da escola e que esse processo estava em fase de maturação muito mais avançado. A solução era muito dispendiosa para o orçamento da escola mas era possível.
Estando o processo em andamento, o Ministério terá informado recentemente, que é sua intenção informatizar os serviços de todas as escolas do país, havendo a expectativa de que tal possa ocorrer a partir do início do próximo ano lectivo.
À escola colocou-se então um problema de gestão:
Hipótese 1 – Investir umas dezenas de milhar de euros num sistema informático e poder assistir, pouco tempo depois, ao seu fornecimento gratuito a todas a escolas. Em consequência, a gestão da escola registaria grave prejuízo pois em tal situação não seria expectável que o ministério a ressarcisse do investimento efectuado.
Hipótese 2 – Esperar pela informatização a fazer pelo Ministério. Em consequência, correr o risco de os prazos esperados para a sua implementação, não se concretizarem.
Perante este cenário, restou à Associação tentar perceber que factores poderão estar na origem do desperdício na nossa escola.
Recebemos a informação de que as ementas semanais são aprovadas por um nutricionista da DRELVT e têm como objectivo fornecer uma alimentação equilibrada aos alunos. Tal dieta, implica entre outras coisas, refeições de carne e de peixe. Da análise dos dados estatísticos colocados ao nosso dispor verificou-se o seguinte:
- Desperdício zero (!) num dia em que o almoço foi frango, isto é, todas as refeições compradas, foram tomadas.
- Desperdícios muito mais elevados nos dias de peixe, o que indicia que as nossas crianças, ou vão almoçar a casa e inutilizam a senha, ou não almoçam nesses dias, ou têm na sua posse, dinheiro suficiente para adquirir, no bar ou no quiosque, uma dieta mais apetecível. Seria uma decisão exclusivamente individual se não tivessem igualmente comprado a senha e com isso obrigado o Estado a pagar, desnecessariamente, uma refeição à empresa fornecedora.
- Parece haver maior desperdício no final da semana do que no início, o que condiz com a ideia da DRELVT segundo a qual é mais fácil, aos alunos, saberem que não vão almoçar no dia seguinte e por isso não perderem um intervalo na fila para comprar senha, do que prever à Sexta-feira, se vão almoçar na Sexta-feira seguinte.
Esta é a informação que nos foi possível coligir e que partilhamos. Esperamos que possa contribuir para uma mais informada compreensão do problema e que possa igualmente ajudar na tomada de decisão dos PEE quanto ao modo de lidar com ele.
A Direcção